segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Procuram-se confeiteiros

Muitas vezes por semana, recebo ligações de pessoas à procura de confeiteiros para seus restaurantes, bufês, hotéis, confeitarias etc. Outras vezes recebo currículos de pessoas “super interessadas” em trabalhar como confeiteiros a qualquer custo.

Ok! Matemática fácil não é? Basta juntar todos e ficamos felizes no mercado, trabalhando e criando delicias para agradar aos olhos e ao coração. Certo? MENTIRA!!!! Para quem não sabe, o mercado é muito diferente dos filmes de Walt Disney.

Em primeiro lugar, para deixar claro, a confeitaria é uma só, independente do lugar em que o profissional trabalhe. A pâtisserie ou confeitaria fina, como alguns insistem em chamar a nossa profissão para tentar diferenciar profissionais “bons e chiques” dos chamados “de padaria” não existe. Pâtisserie é um substantivo em língua Francesa que, pasmem, quer dizer CONFEITARIA... ou seja: quem trabalha fazendo doces e sobremesas é confeiteiro aqui no Brasil e pâtissier na França e pastelero na Espanha etc. Confeitaria fina é a mesma coisa. Somos todos confeiteiros e pronto. O que importa é o que você sabe fazer e com que qualidade.

Por ser a gastronomia uma moda que trabalha muito com o ego do profissional, acredito que muitos cozinheiros não querem dividir os aplausos conosco e, simplesmente deixam de lado a boa finalização de uma refeição. Devemos lembrar que, uma boa sobremesa ao final da refeição, alegra o comensal e transforma caras fechadas em sorrisos; ao passo que quando a sobremesa não é boa, tudo o que veio antes passa a ser ruim ou mais ou menos.

Só para fazer um rápido comentário sobre o assunto; já ouvi muitos falarem que chef é chef e confeiteiro é confeiteiro...ledo engano! Chef é um cargo dentro de uma cozinha e que pode ser exercido por um cozinheiro na praça de salgados e por um confeiteiro na praça de doces. Os dois têm a mesma força e trabalham em conjunto para o principal, que é a satisfação do cliente e não de seus egos. Basta lembrar que nos grandes e melhores restaurantes do mundo, existem cardápios separados para salgados e sobremesas, com os nomes dos Chefs no rodapé, para que todos saibam que a refeição não foi obra de uma só pessoa. Aqui no Brasil acho que nunca vi.

Infelizmente, faculdades ajudam bastante a piorar a situação. Ninguém vende um curso dizendo que é de cozinheiro ou de confeiteiro. Quem é que vai aceitar pagar R$1.500,00 por mês para não sair com o diploma de Chef? As faculdades vendem um cargo que não podem dar para valorizar o que cobram.

Voltando aos confeiteiros e à vida, digamos o seguinte: quando você nasce, não sabe andar, falar, ler, correr e assim vai. Você precisa primeiro aprender a engatinhar para depois andar e correr. Isso leva anos e requer sacrifício e experiência. Na cozinha é a mesma coisa. Você aprende o básico e depois, com o passar de muitos anos, desenvolve a técnica e a rapidez na elaboração das receitas. Mais para frente, depois de aprender muito e suar bastante, começa a criar suas próprias combinações. A moral disso é a de que você deve esperar e trabalhar com calma e tranqüilidade. Nada vem depressa e de graça. Dê tempo ao tempo, pois às vezes a ansiedade atrapalha muito e acaba com seus sonhos.

Tenha confiança no que sabe e certeza da qualidade de seu trabalho. Não adianta nada colocar no seu currículo que trabalhou com “A” ou “B” e na hora do “vamos ver”, não conseguir fazer direito. Às vezes recebo CV’s tão impressionantes que tenho vontade de pedir, eu, um emprego à pessoa. Pessoas tão novas, 19, 20 anos, com tanta experiência e tendo trabalhado com tantos nomes famosos pelo mundo afora, que não entendo o que estão fazendo aqui, pedindo emprego a mim, pobre mortal. Nesses casos, peço ao candidato durante a entrevista, que vá a cozinha e prepare uma massa folhada ou outra coisa não tão complicada. Em vários anos não tive nenhum que aceitou. As desculpas são sempre as mesmas: “não vim preparado”, “não trouxe minha roupa” e outras mais hilárias ainda. Como se você tivesse que se preparar para andar e falar, ou precisasse de sua roupa mágica para lhe dar as super habilidades necessárias.

Outro dia, recebi a ligação de um amigo que fez uma entrevista com um candidato que disse ter trabalhado comigo. Procurei nos arquivos, descobri que ele (a) tinha estagiado comigo por 30 dias, quase dois anos atrás. Perguntei a ele se já tinha feito um teste e ele disse que não precisaria se eu falasse que o(a) profissional era bom (boa). Eu disse para o meu amigo aplicar o teste independente da minha resposta, pois capacidade é capacidade. No final, a pessoa passou por mentirosa na frente de um grande chef e teve que admitir que o meu nome em letras garrafais em seu CV era para impressionar e não serviria de nada se não demonstrasse habilidade para o cargo. Moral da história..... a vaga continua aberta.

Lembrem que ninguém sai operando corações logo no primeiro dia depois de receber o diploma. Ninguém projeta um prédio no dia seguinte à festa de formatura. Tempo e experiência são tudo na vida e conhecimento é algo que ninguém pode tirar de você, mas também não pode enfiar na sua cabeça.

Tempo, dedicação, humildade, amor, trabalho árduo e paciência são algumas das palavras chaves para um grande profissional. Dê tempo ao tempo, dedique-se, seja humilde, ame o que faz, trabalhe com afinco e tenha paciência, as coisas acontecem aos poucos.

Para quem leu tudo isso, entendeu e ainda assim está “super interessado” em ser confeiteiro....por favor currículos para info@flaviofederico.com.br

Boa sorte, sucesso e até a próxima.