quarta-feira, 27 de maio de 2009

Patriotismo de copa do mundo


Camisa da seleção brasileira fora da época da copa. Bandeira do Brasil no carro, em casa e no trabalho. Ir a restaurantes brasileiros. Falar que é brasileiro de boca cheia para gringo ouvir. Agora tudo isso é bacana.

Me lembro bem de quando brasileiro queria ser americano (e ainda quer). Quando cachaça era pinga; coisa de bêbado em boteco, junto com caracu e ovo antes de ir trabalhar. Também me lembro de quando cupuaçu e tapioca eram coisas de pobre, pois vinham do norte e nordeste do nosso pais. Me lembro de tudo isso e muito mais, mas graças a Deus não tenho nenhuma saudade.

Em 1993 fiz uma trufa de caipirinha e ninguém quis comprar. Naquela época não tínhamos chocolates tão bons tampouco minha técnica era apurada. De qualquer forma isso não evitou que eu ouvisse alguns comentários preconceituosos e ridículos sobre a idéia da minha criação. Hoje, pinga é cachaça, bebida fina, exportada para o mundo e cheia de medalhas e honrarias. É algo que o brasileiro tem orgulho de falar, em alto e bom som: “cachaça é coisa do Brasil”. Que o diga o presidente desse país.

Em 1995, fiz um bolo de cupuaçu e só faltou ser queimado em praça pública. Cupuaçu? Alguns perguntaram. Que diabos é isso? É importado? Não não, retrucava eu com inocência. É do Brasil mesmo. Quando descobriam que era da Amazônia, ou exclamavam: credo que coisa de pobre, ou davam de entendidos: fruta exótica não é? Como assim exótica? Não é do nosso pais? Exóticos são as framboesas, foie gras e trufas, que vieram da Europa. Vá estudar sua cultura e as coisas do seu país antes de falar besteira!!

As vezes ouço que “americano é burro”, pois só sabe da cultura deles. Pelo menos eles sabem e dão valor aos seus pares e suas historias. De burro eles não tem nada, ou não seriam a maior economia do mundo, mesmo em tempos de crise.

De qualquer forma, até então, o Brasil não tinha valor para os que aqui nasciam, sem generalizar. Escrever “feito no Brasil” na embalagem de algum produto, era pena de morte para seu negócio. O bacana era dizer que era “importado”. Hoje ainda é ruim, mas muito menos que antes. Hoje o mundo acha os brasileiros legais e nos concedeu uma chancela de “povo bacana”. Com isso, nós começamos a acreditar que somos bons e valemos algo.

Ora. Quem é o burro da historia? Se não conseguimos dar valor a nós mesmos e ao que temos e sabemos fazer, como vamos crescer? Será que aceitar essa chancela de outros países não nos deixará sempre um passo atrás? Se você precisa ouvir de outros que você é bom, é porque não acredita em si mesmo e sempre será inferior ao que lhe concedeu este posto. Se continuarmos a dar valor para os importados (produtos ou pessoas), sempre estaremos em segundo plano.
Brasileiro ainda não percebeu que se o importado é sempre melhor, em uma disputa de vaga de trabalho com um estrangeiro, estamos praticamente fora do páreo. O melhor seria, na entrevista, dizer ao entrevistador que o outro tem mais capacidade e desejar sucesso ao seu oponente.

Trago tudo isso a tona, pois estou farto de pessoas tentando roubar o que é nosso e crescer nos nossos ombros. Acreditem: nos Estados Unidos, Europa e outros países, somos muito mais respeitados que aqui. Porém, se alguém local estiver por perto, seremos apenas os segundos colocados. Depois de muitos anos, vejo e ouço brasileiros defendendo que o nosso país é “demais” e com vontade de mostrar que somos bons em alguma coisa. Porém, ainda fazemos isso para gringo ver e não porque acreditamos nisso. Será que um dia isso muda, ou seremos sempre os patriotas de copa do mundo?

Um abraço e até a próxima